segunda-feira, 17 de março de 2025

Dor e saudade

 Dor e saudade




Nas veias do tempo, escorre a dor,  


Um rio sem leito, frio e sem cor.  


A saudade é sombra que habita o peito,  


Raiz de espinho em jardim desfeito.  


Cada suspiro traz o agudo punhal  


De um verso lembrado, de um amor que é mortal.  


As lágrimas secam, mas a ferida persiste—  


Flor do ausente que o vento não viste.  


O passado é vento que corta a pele,  


Riso extinto na névoa do crepúsculo frágil.  


As horas se arrastam, mas o relógio parou  


No instante em que seu nome meu chão abandonou.  


A lua testemunha o vazio do leito,  


O corpo é casa sem teto, sem teto nem jeito.  


A voz que ecoa nos cômodos vazios  


É fantasma de abraços, de antigos desafios.  


Saudade é melodia sem viola nem verso,  


Dor é tatuagem de um fogo inverso.  


O adeus que não finda, que se enrosca no ar,  


É a cicatriz que me lembra onde doí mais amar.  


Mas na noite sem fim, quando a alma se encurva,  


Aprendo que a dor é a semente da curva  


Que transforma o pranto em estrela cadente:  


Saudade, irmã da alma, sorri tristemente.


Ana Pujol


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